O grande negócio de ser cupido

Naísa Modesto

Se as preces para Santo Antônio não têm dado muito certo, você pode contar com uma ajuda mais prática e profissional: as agências de namoro e casamento.

A profissão de casamenteiro é muito antiga e parece funcionar até hoje. Aqui no Brasil, a primeira agência foi aberta há 60 anos e, desde então, a procura só tem aumentado. Com a chegada da Internet, que para os pessimistas significaria o fim deste mercado, os serviços se tornaram mais populares e modernos.

As empresas do setor costumam ter estruturas bem enxutas, amparadas por profissionais de Internet e psicólogos para acompanhar o processo de “criação” dos casais.

CUPIDOS PROFISSIONAIS

Roseli e André de Carvalho – ela formada em Letras e ele, em Agronomia – decidiram fazer da habilidade de casamenteiro um negócio e hoje são cupidos profissionais.

“Sou cupido desde criança. Desde cedo, ainda na escola, eu levava bilhetinhos para os namorados”. No começo dos anos 90, Roseli conheceu o mercado das agências de matrimônio e achou muito interessante a idéia de montar seu negócio. “Era uma coisa que eu gostava muito de fazer. Cada vez que eu conseguia formar um par, eu me realizava.”

Ela começou a estudar o comportamento humano, conheceu agências fora do Brasil e logo depois fundou a Agência Par, que vem crescendo bastante nos últimos anos.

O trabalho é dividido: ela só atende as mulheres e eles, só os homens – isso facilita a comunicação com quem está contratando o serviço porque as pessoas se sentem mais à vontade para deixar claro o que desejam, segundo os dois especialistas.

O aumento pela procura das agências, segundo Roseli, se deve em parte ao fato da mudança do papel feminino na sociedade, “Infelizmente, a evolução da mulher no mercado de trabalho confundiu o comportamento da mesma na área afetiva.”

A empresária destaca que uma das vantagens de contratar uma agência está na segurança que envolve o processo da busca pelo par. O perfil da cara-metade é analisado levando sempre em conta honestidade e idoneidade. Além disso, a identidade da pessoa é sempre preservada. “Somos muito preocupados com o sigilo. Meu marido e eu fomos até padrinhos de casamento de um casal e só nós quatro sabíamos que eles haviam se conhecido na agência.”

Para se cadastrar, é necessário ter mais de 18 anos de idade e ter seu estado civil legalizado. Depois disso, o cliente preenche uma ficha com seus dados e com as características que pretende encontrar no parceiro. A partir destes dados é iniciada a busca pelo par compatível.

O primeiro contato entre os casais é feito por telefone, e só depois é marcado o encontro. A empresa pode oferecer o local para que isso aconteça.

Roseli e André têm a exata dimensão do seu trabalho: a partir da agência, já foram realizados 300 casamentos. O sucesso vai além dos números. “De todas as pessoas que se casaram pela agência, não houve nenhum caso de separação!”, comemora Roseli.

Para eles, a Internet é uma aliada, não uma ameaça. Roseli diz que a rede pode colocar uma pessoa em contato com muita gente e, assim, possibilitar uma quantidade maior de encontros, mas a qualidade dos oferecidos pela agência é muito superior, em virtude da compatibilidade das pessoas e da segurança que envolve o processo.

Além disso, ela destaca que o fato de reunir pessoas comprometidas com a busca pelo casamento contribui para esse histórico da agência de formar casais que – até o momento – não se separaram.

O tempo estimado para achar o par ideal varia bastante – o casal mais rápido foi formado com apenas 2 meses e o mais demorado, em 5 anos – de acordo com o nível de exigência da pessoa. O perfil das buscas femininas consiste em um homem fiel, atencioso e carinhoso. Já os homens buscam compreensão, sinceridade e afeto. A maioria dos clientes tem entre 25 e 35 anos.

A agência, que fica em Marília (SP), atende todo o País e está prestes a iniciar suas operações em Portugal. Além disso, planeja estender as atividades até a Inglaterra.

PAIXÃO ATÉ NO NOME

Gláucia Maria Paixão é outra profissional que também decidiu investir neste mercado. Seu trabalho começou em Salvador (BA), em 1996. Ela conta que como psicóloga atendia muitos clientes que se queixavam da falta de um companheiro. “Cheguei à conclusão que alguns dos maiores problemas da vida moderna são a solidão e o medo de sofrer desilusões. Paradoxalmente, isso faz com que seja impossível para algumas pessoas estabelecerem novas relações.”

O objetivo da sua agência, Paixão Consult, é atuar como co-responsável, ajudando a resolver essas dificuldades e unir pessoas ao redor do mundo, com os mais diversos perfis. “Numa era de individualismo extremo, a idéia de abrir a empresa veio a calhar. Quem mais poderia entender tão bem de paixão quanto uma pessoa que carrega a própria no nome? (risos).”

No seu cadastro, a empresa conta com 4.360 pessoas neste momento, mas já passaram pela agência cerca de 9.500 cadastrados.

A Paixão Consult também faz cadastramento identificando o perfil da pessoa e Gláucia conta que é extremamente importante preencher os dados com veracidade.

O crescimento dos serviços é medido diariamente pela empresa, que vê aumentar seu número de cadastrados. “O mundo mudou, as pessoas não podem mais sair como antes. A Internet ajuda a resolver este problema”. Este é o papel da agência: mediar o encontro entre as pessoas que têm um perfil satisfatório para o cadastrado.

Apesar do bom tempo deste mercado no Brasil, ainda existem muitas dificuldades para quem decide trabalhar na área. “No País ainda existe muito preconceito. As pessoas não valorizam esse tipo de trabalho em termos financeiros. Elas não pensam que por trás desse trabalho há pessoas trabalhando.”

Gláucia acrescenta que o mercado está saturado em virtude da grande oferta de sites de namoro e casamento. “Falo em termos comerciais, para fazer dinheiro. Mas em termos de satisfação, há campo para todos.”

ENCONTRE O AMOR DURANTE O ALMOÇO

Ioná Schechter é diretora da Lunch for Two, uma das mais antigas deste mercado no País, que surgiu após pesquisas feitas nos Estados Unidos e na Europa.

A vocação para o trabalho também já fazia parte da vida de Ioná. “Sempre fui ‘matchmaker’, mesmo antes de montar a empresa. Foi apenas uma forma de profissionalizar algo que já fazia naturalmente”.

Os mais de mil clientes da Lunch for Two passam por entrevistas com a equipe de psicologia, e depois são colhidos os dados e o histórico para que a pessoa indicada tenha o perfil mais compatível possível. A diferença é que os encontros são marcados para a hora do almoço. “Escolhemos um almoço por ser algo mais leve, descontraído e com hora certa para terminar, já que normalmente todos têm que voltar para seu trabalho ou para seus compromissos.”

Ioná também percebe o aumento pela busca dos serviços e atribui o fato “à dificuldade de encontrar um serviço idôneo na área, à maior independência e individualidade das pessoas no mundo atual, à falta de tempo, etc.”

Segundo a diretora da empresa, o perfil dos clientes da Luch for Two é formado por pessoas de excelente nível cultural, social e financeiro, que buscam conhecer pessoas compatíveis com elas.

O mercado parece próspero. “A vida no mundo atual isola muito as pessoas, dificultando o contato entre elas. Computadores, Internet, serviços automatizados distanciam as pessoas cada vez mais. Minha expectativa é de grande crescimento na procura de nossos serviços”, afirma Ioná.